No dia 14 de agosto que passou, Seu Lauro e D. Benigna festejaram sessenta e cinco anos de casamento. Creiam-me: sessenta e cinco anos de união matrimonial! O casal habita a localidade denominada Jacinto, zona rural do sertão de Canindé. Trata-se, não há dúvida, de um acontecimento raro e notável por si mesmo. Bastaria dizer que sessenta e cinco anos já representam o período de vida de uma pessoa que se alista no clube da chamada terceira idade. Mas acontece que Seu Lauro conta hoje 92 anos de vida, e D. Benigna, 86.
Como exemplo de referência cronológica, quando casaram, em 1960, o antigo e perverso regime de governo ditatorial ainda não havia sido (gracias!) instalado em nosso país. Ainda estavam por acontecer os aguaceiros de 1964 no estado do Ceará e tantos outros acontecimentos que ficaram na história do Brasil e do mundo.
Esse feliz e longevo enlace rendeu a geração de nove filhos, que estão todos aí para contar a história e celebrar, em acalorada confraternização familiar, as bodas privilegiadas dos pais.
Ao tomar conhecimento desse fato extraordinário, fiquei, confesso, de queixo caído, levando em conta que o prolongamento de um enlace matrimonial, em nossos dias, é praticamente um feito contado nos dedos. O histórico de casamentos rompidos em pouco tempo de convivência ocupa uma longa lista, especialmente nos cartórios e tribunais dedicados a esse tipo de causa. Mas Seu Lauro e D. Benigna não se casaram ontem nem antes de ontem: eles confirmaram o sétimo sacramento há pontualmente sessenta e cinco anos!
E, desde então, como duas aves que se amam tenazmente, seguiram, lado a lado, a longa trajetória que chega hoje a seis décadas e um lustro de convívio diário, e seguirá adiante, firme, consolidado e honrando a jura que a dois fizeram perante o altar.
A lucidez em dia, a consciência tranquila e o bom humor constante traduzem claramente a grandeza do estilo de vida conjugal que é a marca registrada na vida de Seu Lauro e D. Benigna. O exemplo maravilhoso de pais de família dedicados está refletido na união entre os nove filhos, afora netos e bisnetos reunidos nesta data em torno da mesa onde se celebram os sessenta e cinco anos de casamento.
E quanta história de vida deve estar envolta no decurso dessa longa caminhada a dois, nos trilhos rígidos do tempo… Histórias de desafios e resignações, lutas e combates, dores e alegrias, esperanças e desilusões, mas, acima de tudo, de muito amor e compreensão. Enquanto se fala tanto no tempo presente em diversos gêneros legais de união, civil, estável, de bens, isso e aquilo, podemos crer e afirmar, com garantia, que Seu Lauro e D. Benigna enlaçaram-se, há muito tempo e para sempre, em nome de uma única união: a união concreta de dois corações que um dia se encontraram para se consagrar a um amor indissolúvel; duas alianças que se fundiram numa só aliança.
Ambos são comprovação autêntica de que o casamento é um compromisso mútuo de amor e fidelidade, de ajuda e reciprocidade, em prol da sustentação de uma longa existência lado a lado. Construtores de uma família coesa e educada conforme os preceitos de um lar puro e honesto, têm hoje o privilégio de colher o fruto do amor, com as mãos de quem semeou o bem acreditando no resultado do trabalho e da convivência fortalecida pela paz.
No peito de Seu Lauro bate longamente o coração de sertanejo cearense acostumado com a luta na roça, com os anos de bom inverno e com os anos de seca também. No peito de D. Benigna bate, igualmente, o coração de uma sertaneja afeita aos cuidados do lar, plena de amor ao esposo e aos filhos. Ambos os corações nos transmitem a receita de uma longa vida, multiplicada pelo amor e pela simplicidade, pela vivência natural, respirando o ar puro do campo, em contato íntimo com a terra que sempre os viu passar unidos, de mãos dadas, satisfeitos com tudo e com todos. Um e outro, até parece, já se mesclaram num só coração, durante esses sessenta e cinco anos que os tornam agora como dois irmãos perfeitamente ligados pelo cordão umbilical da concórdia e da paz de espírito. Parabéns, Seu Lauro! Parabéns, D. Benigna!
