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O que há de novo
Autor: Pedro Paulo Paulino
Atuante tanto na literatura de cordel quanto na poesia erudita, com diversas conquistas em prêmios literários de âmbito nacional. Além de seu trabalho como escritor, ele também é redator e diagramador de jornais, revistas e livros, atuando dentro e fora de Canindé. Como radialista, Pedro Paulo apresenta um programa aos domingos, focado em resgatar sucessos da Velha Guarda.
A Sexta-feira Santa chega, e com ela, regressa à minha memória uma enxurrada de lembranças de uma época em que este dia já foi o momento mais solene do ano. É como agora abrir um álbum de fotografias amareladas pelo tempo, testemunhando costumes que o próprio tempo tratou de abolir. Falo da Sexta-feira Santa da minha infância, na roça onde nasci e cresci, no decorrer do final dos anos setenta e começo dos oitenta do século que passou. Era um dia de penitência, puro, imaculado, inocente. Para começar, nas casas sertanejas, tinha-se por hábito, durante toda a Semana Santa, virar…
Por Pedro Paulo Paulino Foto: Tapio Haaja O escritor maranhense Humberto de Campos (1886-1934), em uma das centenas de crônicas que escreveu, refere-se a um lugar chamado “O país das sombras felizes”. Na descrição do renomado cronista, tal paraíso encontra-se numa estrela remota no Universo, onde todos os seus habitantes, sem exceção, levam a existência mais feliz que poderia haver no mundo. Agora, saindo do campo fértil da imaginação e pisando o solo firme da realidade, sabe-se que há, de fato, um lugar parecido com esse, onde de forma global todos os seus inquilinos são felizes. Esse lugar, conforme notícia…
As chuvas que refrescaram o Semiárido cearense provocaram o ressurgimento da flora nativa. Diversas espécies vegetais aparentemente desaparecidas, num átimo, levantaram-se do chão fulminado pelos incontáveis dias de muito sol. A caatinga cinzenta trajou-se de verde e tornou-se copiosamente entranhada de pequenos vegetais que se enroscam nas plantas de porte mais alentado, tais como a Jurema, o Marmeleiro, o Umbu, o Pereiro, a Umburana e, mais proeminente ainda, o Pau-branco. A caatinga atinge, então, o estágio de “mata fechada”, na definição do sertanejo. Esse conjunto de gramíneas, arbustos e outros vegetais compõe um cenário harmonioso e alegre, com a…
Em face de sua importância no cotidiano e na vida inteira de todos nós, podemos afirmar com garantia que todo dia é dia da mulher, aqui e alhures. E não só por isso, mas, sobretudo, pela sua grandeza, beleza e atrativos físico e emocional, todo dia é dia da mulher. Mãe, esposa, companheira, sogra, filha, irmã, madrinha, amiga, em virtude dessas presenças indispensáveis ao nosso convívio, devemos proclamar cada dia do ano como o dia da mulher. Ainda sendo assim, não resta dúvida, que um dia reservado no calendário e dedicado especialmente a elas é uma homenagem simpática, justa e…
Em nosso cotidiano, o calendário é um instrumento fundamental. Quase tudo que vamos fazer depende, logicamente, do calendário. Somos servos do calendário. Das fases da Lua às efemérides, muita coisa está contida neles. De tão presente, útil e indispensável, nem nos damos conta, em nossa vida prática, de como surgiu o calendário ou os calendários, visto que há vários deles. E não é agora que vamos nos deter em pormenores acerca das origens calendáricas. Basta saber, no geral, que o surgimento dessa ferramenta estritamente humana remonta a séculos antes da Era Cristã, e que o mais recente sistema de divisão…
Eles despertam com o amanhecer. O mais festivo e canoro é o Cardeal, que entre nós é mais conhecido como Galo-de-campina. É o seresteiro comum das manhãs, em especial, na estação das chuvas. Seu canto mavioso espalha-se de todo pelos ares, avisando aos demais viventes ao seu redor que o dia está começando. Com o crescer das horas, ecoa, inimitável, a voz da Fogo-apagou, cujo nome é uma onomatopeia da sua própria cantiga. Já aquele outro, de onde quer que ele esteja, impossível é não se ouvir sua canção amorosa: o Bem-te-vi, o indiscutível tenor da mata. Na apresentação dessa…
Música e perfume, sabemos, marcam momentos para sempre. A essa diminuta lista eu acrescentaria a chuva. Pelo menos para nós habitantes do quase deserto, onde as benesses do céu são raras, a volta das chuvas traz consigo uma enxurrada de gratas lembranças que nos remetem a momentos mágicos, em especial, aos dias da nossa bendita infância. Na transformação radical do clima, há um choque térmico nas emoções. Relembranças saborosas de instantes congelados na memória, e que de súbito vêm à superfície dos sentimentos, transportando-nos para algum lugar do passado – às vezes nem tão distante. Imagens de alguns outros tempos.…
Sempre que chega o carnaval, pergunto-me: afinal, que folião sou eu? Que amigo sou eu da folia, se jamais me comportei, em momento algum, como um súdito do Rei Momo? Mesmo na quadra mais radiante da existência, que é a dos 20 aos 30 anos, mantive-me sempre, por exclusiva vontade e vocação, à margem dos festejos carnavalescos. Jamais pus uma máscara em meu rosto, uma fita sequer que pudesse identificar em minha indumentária qualquer coisa que lembrasse o carnaval. Enfim, jamais arredei o pé em busca de um baile de carnaval, de tantos que se multiplicam por aí nas seguidas…
Na segunda vez que visito o rancho do meu jovem casal de amigos Djacir e Hozana, sou recebido à mesa com uma saborosa carne de pato regada a um aperitivo da melhor qualidade. Esses meus dois amigos abstêmios, numa atenção especial, reservam-me na prateleira da cozinha um recipiente do nosso bom néctar, que brindo, com meu copo abastecido, o copo simbólico deles. Da primeira vez que visitei essa graciosa moradia, o tira-gosto foi na base da tilápia, outro cardápio luxuoso, sem menoscabo do pato. A moradia, situada em um dos bairros tradicionais de Fortaleza, pela sua tranquilidade, parece encarnar o…
Deitado na rede estirada entre dois armadores, na pequena mas aconchegante sala de sua moradia, as janelas abertas deixando entrar o vento agradável da manhã, foi assim que encontramos o Zé Freire, sertanejo dos mais populares nos sertões de Canindé. A ida até seu rancho, localizado no distrito que tem o auspicioso nome de Esperança, partiu de um convite do meu amigo Capitão Ari Bezerra, veterano da Marinha Mercante do Brasil. A viagem até lá é feita, em parte, sobre o asfalto da rodovia estadual que liga o povoado de Campos à terra dos monólitos. Depois, percorrem-se nove quilômetros de…