Autor: Pedro Paulo Paulino

Atuante tanto na literatura de cordel quanto na poesia erudita, com diversas conquistas em prêmios literários de âmbito nacional. Além de seu trabalho como escritor, ele também é redator e diagramador de jornais, revistas e livros, atuando dentro e fora de Canindé. Como radialista, Pedro Paulo apresenta um programa aos domingos, focado em resgatar sucessos da Velha Guarda.

Nada buliu mais com o mundo esta semana, do que as eleições presidenciais nos Estados Unidos. A Terra pareceu girar mais em torno do Tio Sam do que em torno de si mesma. Um homem e uma mulher disputando entre si o trono do que muitos chamam de maior potência mundial. Como quem assiste a uma partida de futebol sem entender bem as regras do jogo, assim, ocasionalmente, assisti pelas mídias aos acalorados debates entre os dois candidatos e às opiniões de entendidos em política internacional. É de saltar aos olhos a grande diferença entre assuntos levantados na campanha presidencial…

consulte Mais informação

Neste sábado, dia dedicado aos mortos, vêm-me à lembrança aqueles que se foram e não deixaram túmulo. Isto vale tanto para os anônimos quanto para as celebridades. No primeiro grupo, existe uma vasta quantidade de pessoas, incluindo as vítimas de epidemias, de acidentes aéreos de grande proporção e os mortos nas guerras, por exemplo. No grupo das pessoas famosas, pelos menos dois grandes vultos foram enterrados não se sabe mesmo onde. De Camões, lê-se que: “Entre 1579 e 1581 grassa em Lisboa, mais uma vez, violenta peste. A morte sobrevém em quatro ou cinco dias. No meio do caos reinante,…

consulte Mais informação

Eu confesso, sem cerimônia alguma, a minha ignorância, nos dias de hoje, quando leio, nos portais de notícia, certas manchetes. Os portais a que me refiro são os jornais que morreram e reencarnaram em formato digital. E aqui abro um parêntese para lamentar: ah, velhos jornais de papel, que nostalgia sinto de quando os folheava e lia teu conteúdo dividido em colunas e retrancas, com tuas seções diárias e suplementos dominicais. Fecho parêntese. Voltando ao topo, reafirmo minha completa ignorância quando me deparo com manchetes cifradas em termos e expressões de outra língua que não a nossa “última flor do…

consulte Mais informação

Seis aninhos, corre para a avó e exclama: “Boboia, meu dente caiu, traz a cola”. E mostra na conchinha da mão um pequenito dente de leite que acabara de se desprender da gengiva, abrindo a primeira “janelinha” no sorriso mais puro deste mundo. O acontecido já era esperado, visto que a mãe havia explicado que dentes caem na infância. Ela então aguardou com expectativa a novidade, como se aguardasse uma nova boneca ou outro brinquedo. E quando aconteceu, ela teve a curiosa ideia de querer colar de volta o dente em seu lugar. Talvez por ter visto alguma vez alguém…

consulte Mais informação

Durante a alta estação da romaria em Canindé, no mês de outubro, há um clichê tão repetido, que é como se fosse um comando gravado no cérebro e acionado automaticamente. Só os nativos entendem. Trata-se do “depois da festa” – uma frase curta, mas de enorme efeito, que implicitamente e de caráter recíproco é acatada e compreendida por todos. Aquele compromisso, aquele projeto, aquela incumbência antes impreterível, aquela promessa de algo, ficam agora reservados para… depois da festa. O passeio fora da cidade, a compra de um objeto, o filme inédito, o encontro rotineiro que põe em dia a fofoca…

consulte Mais informação

Rubem Braga, mago da crônica brasileira, tem uma que se chama “Um pé de milho”, que aliás virou título de livro. Texto enxuto e saboroso como o próprio milho em todas as suas performances, da espiga cozida ou assada à pamonha. Palavras líricas com cheiro de milho verde e a magia de uma boneca de milho agarrada ao caule, os cabelos loiros atiçados ao vento. No meu caso, admirável Braga, permita-me falar qualquer coisa sobre um pé de algodão, tão misantropo quão seu pé de milho urbano. Avistei-o à beira do asfalto, sob o céu límpido e ensolarado de setembro,…

consulte Mais informação

Escrever nunca foi tão prático como hoje em dia, depois do advento da era digital. Eu disse prático, e não fácil, bem entendido. Pois escrever, de alguma forma, ainda é um desafio não rara vez angustiante para nossa cuca. No começo da década de noventa do século passado, quando a velha máquina de escrever ainda era a vedete das redações de jornal, Rachel de Queiroz, em crônica memorável, desabafa: “Ontem, num programa da TV, discutíamos entre escritores e jornalistas o drama do papel em branco na máquina e, diante dele, o pobre de nós, obrigado a espremer o juízo até…

consulte Mais informação

O lugar se chama Paudarcal. O nome vem de longe, quando ali reinava em abundância os pés de ipê, também conhecido como pau d’arco. Fica no interior do município de Madalena. Há naquela terra uma tradição arraigada e conservada por família durante mais de quatro décadas. A farinhada no mês de julho provoca o ajuntamento de muita gente que distribui entre si diversas tarefas. O agricultor Gerardo Muquila, nome de guerra de Gerardo Gomes da Silva, é quem capitaneia, a cada ano que passa, mais uma edição da farinhada em sua propriedade. Tradição telúrica que vem de seu pai. A…

consulte Mais informação

O meu primeiro brado pessoal de independência aconteceu durante o curso primário. Estudante procedente do meio rural, no ano de minha estreia em uma escola da cidade, deparei-me, no segundo semestre de aula, com uma experiência que para mim foi insólita e traumática: a participação obrigatória de um desfile estudantil no 7 de Setembro. Meu desconforto diante dessa nova situação começou com os treinos diários. Em detrimento disso, aulas eram sacrificadas, e, sob as ordens do orientador, saíamos em formação desfilando nas ruas, debaixo de um sol impiedoso. No primeiro ensaio, voltei para casa desapontado, e não escondi meu protesto.…

consulte Mais informação

Em tempos de campanha eleitoral, vale a pena, mais do que nunca, relembrar a saga do candidato Formiga. Para começo de conversa, o processo eleitoreiro nos cafundós do sertão tem características bem diferenciadas do que acontece nos nichos urbanos, em tempo de eleição. O voto do eleitor matuto ainda é disputado dentro de padrões meio anacrônicos, naquela base da dinâmica do compadrio, da camaradagem e da visita acalorada do candidato, que uma vez eleito, sacode o pó das alpercatas e passa quatro anos em profunda e silenciosa ausência. O anúncio da vinda de algum candidato ao grotão mais remoto enche…

consulte Mais informação