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O que há de novo
Autor: Pedro Paulo Paulino
Atuante tanto na literatura de cordel quanto na poesia erudita, com diversas conquistas em prêmios literários de âmbito nacional. Além de seu trabalho como escritor, ele também é redator e diagramador de jornais, revistas e livros, atuando dentro e fora de Canindé. Como radialista, Pedro Paulo apresenta um programa aos domingos, focado em resgatar sucessos da Velha Guarda.
© Skitterphoto O ano de 2022 é um ano marcante dentro a história do Brasil. Em 7 de setembro, assinala-se o bicentenário da Independência, que aconteceu em 1822, sob a gritaria de Pedro de Alcântara, o Primeiro. Celebra-se também o centenário da Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922. Outra comemoração festiva é o centenário da radiodifusão no território nacional. Tudo começou com a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, do icônico Roquette-Pinto, atual Rádio MEC, que fez a transmissão ao vivo das festividades do então centenário da Independência.As primeiras emissoras eram empreendimentos de grupos de empresários, como Alfredo…
Pedro Paulo PaulinoHá determinadas existências humanas, neste mundo, que mais parecem um brinquedinho da vida. Perambulou na cidade de Canindé, até poucos anos, um desses exemplares da espécie humana, sem dono e sem dono de nada e sem vida aparente. Cruzava as ruas, dobrava as esquinas, parava nas calçadas, e sorria. Quase sem palavras, como uma múmia ambulante. Sem identificação, sem mais nada. Existia, apenas.Costumava catar guimbas de cigarros atiradas na rua. Coletava latas e outros bagulhos destinados ao lixo. Suas perninhas cambotas e finas o conduziam diariamente aos mais diversos recantos da cidade. Nada pedia. Nada exigia. Existia, apenas.Viveu…
No dia oito de junho, fez quatro anos da morte do radialista Tonico Marreiro, cujo nome e bairrismo orgânico estão intrinsecamente ligados aos costumes e pessoas de Canindé. Assim sendo, relembremos uma crônica escrita em sua homenagem.Era sempre aos domingo, que se ouvia no rádio essa saudação: “Alô, meus amigos, alô, minhas amigas, cumprimenta-lhes Tonico Marreiro!”. Saudação antológica, alegre e cordial. Ao som da melodia de “Pedacinhos do céu”, estava no ar mais um programa “Fim de semana com o Tonico”. Essa saudação transformou-se em silêncio. Tonico Marreiro já se chama saudade – palavra entranhada no seu coração que por longos…
No dia 30 de maio que passou fez dois anos da morte de Arievaldo Viana. É oportuno, portanto, relembrarmos aqui a memória de um grande ser humano e um exímio artista. Somos, eu e ele, do mesmo mês e ano. Diferença de dias. Virginianos. Ambos nascidos e criados no mesmo meio rural. Seu pai agricultor. Meu pai também. Sua mãe doméstica e costureira. Minha mãe também. Estudamos ambos em escolas modestas do interior. Aprendemos a ler em folhetos de cordel. Já na cidade de Canindé, na adolescência, fomos alunos secundaristas do mesmo educandário. E nos conhecemos. E travamos uma amizade…
Sob a brisa mansa e acolhedora da Serra do Machado, no coração do Ceará, dorme um monstro! Por absurdo que isso possa parecer, ali, naquele recanto prenhe de natureza, habitado pelas aves e por camponeses simples, adornado pelas folhas e as flores das árvores nativas, dorme um monstro feroz; um monstro dorme no seio da terra fértil daquela região serrana. No aconchego bucólico e tranquilo da serra, o monstro hiberna ao longo de incontáveis eras. Ninguém dali o incomoda nem o chama, embora saibam seu nome e tenham receio até de pronunciá-lo. Ele atende pelo nome de Urânio. Todavia, Urânio,…
Era ali, na pequena banca de zinco, situada na praça principal da cidade, aonde íamos sedentos, como um israelita à Terra Prometida. Idos de 1980. A clientela do pequeno estabelecimento, em sua maioria, eram estudantes ginasiais, oriundos de uma época remota que sequer vislumbrava ainda o milagre da tecnologia digital dos dias de hoje.A banca de jornal ou de revistas ou ambas as coisas era um ponto atrativo na praça Thomaz Barbosa, centro comercial da cidade de Canindé. Para nós, era pequeno mas precioso espaço de grandes artigos de venda. O jornal do dia, a revista da semana, a palavra…
© Pedro Paulo Paulino Há algum tempo, mais precisamente no começo de maio de 2014, a cidade de Canindé perdeu um personagem dos mais conhecidos de suas ruas. Morreu atropelado, numa manhã de domingo, João Paulo de Sousa Medeiros, o caricato Sargento Jotapê, que contava pouco mais de 30 anos de idade. Se é comprovado que a vocação não escolhe criaturas, a vocação para as armas, em seu voo cego, aterrissou de cheio na cabeça do Jotapê e dali nunca mais bateu asas. Pois se o destino não lhe favoreceu seguir seu ideal segundo a razão, de outro modo ele o…
CanvaEsse domingo, oito de maio, é um domingo especial para muitas pessoas. Comemora-se nessa data o Dia das Mães. Há, porém, nesse dia, sentimentos diferentes entre dois segmentos distintos: o dos que têm sua mamãe e o dos que a perderam. Até o começo deste ano, eu, por exemplo, me incluía na primeira categoria; agora, perfilo-me, amargamente, entre os do segundo segmento. Pois de repente, a morte, em sua sinistra e incansável peregrinação pela terra, bateu à nossa porta e levou a mulher que me deu a vida. E levou-a para sempre.Não há, portanto, em mim, comemoração alguma. Em vez…
© Pedro Paulo PaulinoA cada manhã, ele aparecia pontualmente na calçada, caminhando com a mansidão do homem realizado e feliz. Tal impressão ganhava mais realce quando ele pisava o estreito espaço da venda onde o esperava o café quente. Pois ali, com gestos nobres e simpáticos, voltado para o recinto, cantarolava coisas de outros tempos. A voz até que não era ruim, e o sucesso do dia – jamais repetido – ecoava de praxe um Nelson Gonçalves, um Orlando Silva, um Silvio Caldas, ou uma marchinha de carnaval… nada, a rigor, que não remetesse a qualquer página antiga do cantar…
© Pedro Paulo Paulino Por detrás da muralha do cemitério de Vila Campos, avista-se de longe um pé de pau-branco em plena floração sazonal. Esta é a época do ano em que essa espécie vegetal, típica da caatinga, veste-se com suas flores brancas, como uma cabeça encanecida pelo tempo. Em torno do campo-santo, ninguém o plantou. Nasceu ali espontaneamente, ou mais provavelmente, pelo trabalho de polinização de aves e também do vento, haja vista a proliferação de paus-brancos nas adjacências.Majestoso e altaneiro, o pé de pau-branco enche de vida e alegria o lugar dos mortos, já de si tão triste. Dia…