A redondeza inteira consternou-se com a morte do pequeno Isaías. Onze anos, feitos em janeiro. Um mundo de sonhos pela frente. O sol da existência apenas tinha começado a raiar. Coraçãozinho palpitando no peito infantil. Um território de descobertas todo por explorar. Adolescência ainda dormente. Infância colada no seu dia a dia. De uma hora para outra, a “Indesejada das gentes” aparece, horrenda e cruel, e leva Isaías e todo o seu mundo de sonhos lúdicos.
A morte, estúpida em qualquer de suas versões, quero crer que se torna ainda mais estúpida quando não poupa uma vida incipiente, plantinha em pleno crescimento, adubada pela pureza da infância e da meninice. Tenho a impressão, como certo alívio, de que a morte teria ficado unicamente para os adultos, para aqueles que tiveram já tempo e oportunidade de conhecer e experimentar os desafios e os prazeres da vida, o doce e o fel do mundo, ou talvez a chance de pecar.
Isaías não teve tanto tempo para nada disso. Foram apenas onze anos. O suficiente, unicamente, para ver, a seu modo, e sem maior entendimento, o mundo dos adultos se desenrolar à sua frente. Seu sonho de ser um atleta do futebol foi interrompido, de forma irônica e sinistra, quando brincava de bola com os coleguinhas. Um lance dramático evoluiu para situação clínica cujo epílogo foi uma fatalidade.
O adeus tão cedo de Isaías comoveu-me. Comoveu, melhor dizendo, muita gente, inclusive, quem não o conhecia. Eu jamais o vi em pessoa. Mas a notícia de sua morte comoveu-me. Um amiguinho partiu tão cedo. A morte é estúpida. E mais estúpida, quando não poupa uma vida em seu começo. Vale a pena repetir isso. Deviam morrer, unicamente, os adultos, homens e mulheres que viveram o suficiente para alcançar alguma compreensão desta existência e deste mundo. Mentes que tiveram oportunidade, em todo caso, de questionar por que aqui estamos, a razão de nossa presença no palco da vida.
Embora, convém afirmar, as crianças tenham perguntas muito mais interessantes e instigantes do que essas. Isaías, como exemplo maior, se tivera oportunidade, poderia hoje perguntar, sem resposta alguma jamais, por que foi levado tão cedo, quando, sem ter praticado mal algum, tinha todo um caminho para percorrer. Neste caso extremo, sirva, talvez, de consolo, a mensagem de seu homônimo bíblico, segundo o qual, “Eu, o Senhor, farei isso acontecer. Fique em paz. Deus está no comando (Isaías, 60,22)”.
3 Comentários
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Obrigado Pedro Paulo ,eu como tia coração partido ,só tenho a te agradecer pela homenagem a nosso menino !
Meu priminho um ser tão pequenino mas com um coração cheio de amor,alegria e fé,que se foi praticamente no início da vida,buscar resposta pra tudo isso talvez seja machucante de mais, pois tem coisas que só cabe a Deus por que é ele que nos dá e é
que ele nos tira,ninguém explica Deus.